'Casa da Barbie' atrai crianças e fãs da boneca em Mogi das Cruzes, SP
Apelido veio por acaso e hoje casa tem bonecas no jardim e na sala.
Moradora abriu as portas e crianças da vizinhança passam o dia brincando.
Casa da Barbie tem réplicas da boneca espalhadas pelo jardim (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
A cena se repete várias vezes por dia. Um carro passa em frente à casa e
após alguns instantes dá marcha a ré. O veículo fica alguns segundos
parado em frente ao imóvel pintado de rosa e quase sempre na janela
traseira está uma criança com o olhar curioso. A casa fica num
condomínio de
Mogi das Cruzes,
na Região Metropolitana de São Paulo, e é conhecida como “Casa da
Barbie”. Com um jardim cheio de placas de madeira com o recorte e a
pintura da boneca, além de uma sala de estar com dezenas de Barbies, o
local virou atração e a dona abriu as portas para as crianças da
vizinhança brincarem.
Por fora, a fachada da casa rosa com telhado azul chama a atenção. O
local lembra uma casa de bonecas. Os retratos pintados em madeira chegam
a ter quase 1,80m de altura. Atrás de uma moita, uma Barbie fada
descansa sentada. Ao seu lado, uma versão casual da boneca leva uma
bolsa e um óculos nas mãos. Há ainda uma Barbie princesa, com um coelho,
e, no fundo do cenário, próximo da porta de entrada, uma Barbie com uma
cadelinha da raça yorkshire. Estes últimos personagens são inspirados
nos moradores reais desse lugar de fantasia. O desenho retrata a
estudante de Direito catarinense Cristiane Pichetti, de 35 anos, e sua
cadela, Shalita.
'Castelinho' fica no hall da casa e tem dezenas de
versões da boneca (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
“Tudo isso aconteceu por acaso. Quando fomos pintar a casa, encomendei
um tom de rosa bem clarinho, só para quebrar o branco. Mas veio um tom
errado e ficou um rosa mais chamativo. Os pintores começaram a trabalhar
quando a gente estava fora e quando eu vi a casa já estava com uma
parte pintada. Aí resolvemos deixar assim mesmo”, conta Cristiane, que
mora com o marido, João da Silva, que é representante de uma madeireira,
o filho e o enteado, de 17 e 16 anos.
Barbie por acaso
O engano com a cor da tinta aconteceu há cinco anos. Antes de vir para
Mogi, o casal morava em São Paulo, mas se mudou para o Alto Tietê em
busca de mais tranquilidade. “Meu filho tinha nove anos e estava
assustado na capital”, conta Cristiane.
Quando compraram a casa, ela era bem diferente. “Ela era amarela e os
batentes, escuros. Era uma casa feita para vender, alguns cômodos não
tinham piso. Naquela época a gente ficava o tempo todo entre Mogi e São
Paulo e numa dessas voltas para a casa já tinham começado a pintura
errada”.
Sala de estar foi decorada com painéis da Barbie
(Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
O engano fez com que a casa se tornasse ponto de referência dentro do
condomínio. “Quando algum visitante pedia informação na portaria, o
pessoal dizia 'fica ao lado da casa da Barbie', ou 'passa a casa da
Barbie e vira na segunda rua à direita'. Aí o nome pegou”, conta
Cristiane.
O que a estudante não esperava é que algumas pequenas curiosas
quisessem conhecer a Barbie pessoalmente.“Depois as crianças começaram a
bater na minha casa, perguntando 'tia, é aqui que mora a Barbie? Cadê a
Barbie?'. Aí eu falava 'ela está tomando banho, ela está dormindo'. Não
esperava aquilo. Aí meu pai falou, 'porque a gente não coloca umas
Barbies lá fora?'. Ele trabalha com desenho e pintura. Ele mesmo
desenhou a Barbie, usamos madeira da madeireira do meu marido, meu pai
pintou, colocamos os primeiros retratos no jardim e foi o maior
sucesso”.
O jardim da casa de Cristiane virou praticamente um “ponto turístico”
do condomínio. As pessoas param para tirar fotos. “Uma vez um rapaz veio
de São Paulo a Mogi só para levar a namorada para conhecer a minha casa
e tirar fotos”, conta.
Dentro da casa
Não demorou para que a brincadeira passasse para dentro da casa da
estudante de Direito. As crianças começaram a trazer suas bonecas e
Cristiane abriu sua sala de estar para que elas brincassem. As paredes
do hall e da sala agora estão tomadas por pinturas da Barbie e estampas
de rosas.
Cristiane tem cartinhas que fãs da Barbie passam por baixo da porta da casa (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
A última novidade é um “castelinho”, também feito em madeira pelo pai
de Cristiane, que ocupa boa parte do hall da casa. Os habitantes são
diversos modelos da Barbie e de seu namorado, Ken.
“Tem crianças e amigas que agora me dão bonecas. Eu também brincava de
Barbie quando era criança, mas não sou uma colecionadora. Trouxe de
Santa Catarina uma boneca antiga, da minha infância”. Até a fabricante
da Barbie mandou um kit com cinco bonecas para Cristiane depois que a
história ficou conhecida.
Todos os dias vêm crianças brincar na casa. “Tenho 26 bonecas da Barbie
e um aplicativo de celular com todas as roupas dela”, conta a pequena
Beatriz Ripamonti, de 10 anos. Ela e sua irmã, Beatriz, de 8 anos, são
frequentadoras da casa de Cristiane e, apesar de pertencerem a uma
geração que lida com smartphones e tablets (as meninas brincavam com seu
iPad durante a entrevista) desde cedo, ainda são apaixonadas pela
boneca Barbie, criada há quase 54 anos.
Cristiane e sua cadelinha, Shalita, também foram re-
tratadas nos painéis do jardim (Foto: Pedro Carlos
Leite/G1)
Mesmo em um condomínio de alto padrão, onde muitas crianças brincam com
tecnologia de ponta desde cedo, Cristiane recebe cartinhas feitas à mão
por baixo da porta da sua sala. “Acho que são crianças tímidas que
mandam as cartas. Quando tem o endereço de onde veio eu respondo”, conta
a estudante. A maior parte das cartas são de meninas que dizem ser
“muito fã da Barbie” e pedem para conhecê-la. Há ainda desenhos da
boneca.
Os homens da casa
Segundo Cristiane, a parte masculina da casa não se incomoda de morar
na casa da Barbie. “Eles entraram na brincadeira e não ligam”, afirma.
De férias na casa da madrinha, o garoto Vitor Matheus Pichetti, de 11
anos, veio de Balneário Camboriú, também em Santa Catarina. “Cada vez
que eu venho aqui tem mais Barbies. O pessoal que vem ver a casa fica
sempre aqui fora. Gosto de ficar assistindo filmes com a minha madrinha.
Não me incomodo com quem vem conhecer a casa, acho legal”, conta.
Negócio
2013 é o ano em que Cristiane pretende realizar um projeto: transformar
a brincadeira de casa da Barbie em um negócio. “As pessoas sempre falam
para eu fazer alguma coisa, mas o curso de Direito exige bastante,
então não tenho muito tempo. Ano passado tentei fazer uma festa da
Barbie e as crianças ficaram eufóricas, mas chegou minha época de provas
e acabou não dando certo. Mas agora penso em fazer uma casinha da
Barbie na beira da piscina e uma atividade 'Lanchando com a Barbie',
para as crianças brincarem na hora do lanche”, Cristiane conta que está
querendo contratar uma estagiária do curso de Psicologia para monitorar
as crianças.
As irmãs Beatriz e Giovana são fãs da Barbie e têm
aplicativos com roupas da boneca (Foto: Pedro Car-
los Leite/G1)
“Também penso em alugar o espaço para fazer aniversários temáticos da
Barbie. Mas claro que aí seria cobrado. Nada muito caro, mas o justo”,
conta a estudante, que atualmente abre as portas da sua casa para
crianças e fãs da boneca gratuitamente.
E não são apenas as crianças que se encantam com a casa. “As mãe vêm e às vezes tiram mais fotos que as crianças”.
A impressão que fica é que anos atrás, no começo desta história, quando
as crianças perguntavam para Cristiane onde estava a Barbie, elas
estavam falando com a própria. As cartinhas das meninas emocionadas
também revelam isso. Cristiane guardou todas.
Personagem e pessoa se confundem. Quando as meninas dizem que querem
conhecer a Barbie, elas estão se referindo à catarinense de longos
cabelos loiros e olhos claros. Quando perguntada se, no fim das contas,
ela virou a Barbie, Criatiane ri e admite “é, acho que sim”.